Formulando com ingredientes clean label: Mais do que uma tendência… Uma exigência do mercado

O conceito clean label ganhou força na indústria de alimentos e bebidas, impulsionado pela crescente demanda dos consumidores por produtos mais naturais, transparentes e com listas de ingredientes reduzidas.
Por Márcia Fani
O mercado clean label tem se expandido globalmente no setor de alimentos e bebidas, refletindo a crescente demanda dos consumidores por produtos mais naturais, transparentes e livres de ingredientes artificiais, alinhando-se a uma mudança mais ampla na percepção do consumidor, que está cada vez mais preocupado com a saúde e a qualidade dos alimentos que consome.
Seguindo essa tendência, o mercado global clean label está projetado para continuar a sua expansão. Dados da Mordor Intelligence projetam que esse mercado deverá atingir US$ 45,54 bilhões em 2025, com uma taxa de crescimento anual composta (CAGR) de 6,51% até 2030, alcançando US$ 62,43 bilhões. A região Ásia-Pacífico se destaca como o mercado de crescimento mais rápido para ingredientes clean label, impulsionado pelo aumento dos padrões de vida e pela crescente demanda por produtos de conveniência com rótulos limpos.
As categorias de alimentos mais impactadas incluem produtos de panificação, snacks e bebidas, onde a substituição de ingredientes artificiais por alternativas naturais tem sido uma prioridade. Segundo a Prescient & Estrategic Intelligence, o setor de bebidas lidera o consumo de ingredientes clean label, representando 30% do mercado em 2023, com uma previsão de crescimento de 9% ao ano até 2030.
A América Latina também apresenta crescimento robusto, embora com características regionais específicas. As preferências dos consumidores latino-americanos variam conforme a região, mas, de maneira geral, há um crescente interesse por alimentos com ingredientes locais e naturais. Em países como o Brasil, México e Argentina, os consumidores estão cada vez mais dispostos a pagar mais por produtos que atendem aos critérios clean label.
No Brasil, o movimento clean label tem ganhado destaque, especialmente no setor de alimentos processados e bebidas. O país apresenta uma rica biodiversidade, com muitos ingredientes naturais e autênticos que estão sendo cada vez mais incorporados em produtos clean label. A demanda por produtos orgânicos, sem conservantes e sem aditivos artificiais tem impulsionado o crescimento desse mercado no Brasil.
Em 2023, dados da Mordor Intelligence mostram que o mercado brasileiro de ingredientes alimentícios foi avaliado em aproximadamente US$ 22,4 bilhões, com uma expectativa de crescimento anual de 1,18% até 2028, atingindo US$ 23,75 bilhões. Embora esses números não se refiram exclusivamente aos ingredientes clean label, fornecem um contexto sobre o mercado de ingredientes alimentícios no país.
Entre os segmentos mais ativos, destacam-se as bebidas, especialmente sucos, refrigerantes e bebidas vegetais, que têm adotado alternativas clean label com ingredientes naturais e preservação por métodos como a pasteurização a baixa temperatura. No setor de panificação e confeitaria, também há uma forte demanda por produtos sem glúten, sem aditivos artificiais e com ingredientes mais próximos da natureza.
A evolução do conceito clean label
O conceito clean label é simples, mas poderoso. Em sua essência, refere-se a prática de listar apenas ingredientes que sejam facilmente reconhecíveis e compreensíveis pelos consumidores; ingredientes naturais, sem aditivos artificiais, conservantes, corantes ou sabores sintéticos, são a base desse movimento. O objetivo é garantir que os produtos alimentícios sejam mais próximos do seu estado original, com menos intervenções na sua composição.
O clean label surgiu como uma resposta direta ao crescente número de produtos processados que começaram a dominar o mercado alimentício a partir da segunda metade do século 20. Durante décadas, os fabricantes focaram em prolongar a vida útil dos alimentos e melhorar a palatabilidade, frequentemente, utilizando aditivos e conservantes artificiais. Com o tempo, no entanto, os consumidores começaram a se questionar sobre os impactos desses ingredientes na saúde e no meio ambiente.
Na década de 2000, o movimento clean label começou a ganhar força, impulsionado por uma crescente demanda por produtos mais naturais e saudáveis. Em 2010, o clean label já estava se consolidando como um conceito fundamental na indústria alimentícia, com empresas de todos os portes sendo desafiadas a reformularem as suas ofertas para atender a essas novas expectativas.
Nos anos seguintes, a ideia de clean label se expandiu para além da eliminação de conservantes artificiais e aditivos químicos, envolvendo também a sustentabilidade e a origem dos ingredientes e, a partir de 2015, tornou-se uma verdadeira força no mercado global, com várias indústrias, especialmente as de alimentos e bebidas, adotando o conceito não apenas por questões de transparência, mas também como uma resposta direta a demanda crescente por produtos mais naturais.
Nos dias de hoje, os princípios do movimento clean label foram ampliados para atender o consumidor contemporâneo, que não busca apenas listas de ingredientes mais curtas e compreensíveis, mas quer mais benefícios, mais sustentabilidade e mais inovação. Dessa evolução nasceu o conceito clean label plus, que combina transparência e naturalidade com atributos adicionais, como benefícios nutricionais e impacto ambiental reduzido.
Entre as principais tendências que estão moldando esse novo movimento, destaca-se a crescente demanda por ingredientes com benefícios funcionais. Além de serem naturais e facilmente reconhecíveis, esses ingredientes precisam agregar valor nutricional aos produtos. Ingredientes ricos em fibras, proteínas vegetais, probióticos e antioxidantes naturais ganham destaque, impulsionados pela crescente busca por bem-estar e longevidade.
Outro fator importante é a sustentabilidade na cadeia produtiva. Os consumidores estão cada vez mais atentos não apenas ao que consta nos rótulos, mas também aos processos de obtenção dos ingredientes, incluindo o cultivo sustentável das matérias-primas, com destaque para certificações orgânicas ou de comércio justo (fair trade), que agregam valor ao produto e atendem a demanda por práticas mais responsáveis e éticas.
A produção limpa e a rastreabilidade total dos ingredientes também se tornaram diferenciais importantes. Tecnologias que minimizam o impacto ambiental, como os processos enzimáticos ou a fermentação de precisão, ganharam relevância, pois oferecem uma maneira mais sustentável de produzir ingredientes naturais. A rastreabilidade completa garante aos consumidores a origem dos ingredientes e a transparência do processo produtivo, fatores essenciais em um mercado cada vez mais exigente.
A redução de açúcar e sódio sem comprometer o sabor é outra grande tendência no setor. Ingredientes naturais, como extratos botânicos e fermentações específicas, estão sendo cada vez mais explorados para manter a palatabilidade dos produtos, sem recorrer a realçadores artificiais. Esse movimento visa atender ao crescente desejo por alimentos mais saudáveis, mas sem abrir mão da experiência sensorial de consumo.
O clean label plus também está estreitamente ligado à busca por produtos mais inclusivos. A ausência de alérgenos, como glúten e lactose, e a inclusão de opções plant-based, com ingredientes de origem vegetal, são características que atendem a crescente demanda por alimentos que respeitam restrições alimentares e preferências dietéticas.
Ingredientes estratégicos
A demanda por produtos clean label tem redefinido o desenvolvimento de alimentos e bebidas, impulsionando uma revolução na escolha de ingredientes. Se antes o foco era apenas remover aditivos artificiais, hoje a abordagem vai além: os ingredientes precisam ser naturais, funcionais e entregar performance equivalente, ou até superior, às soluções sintéticas.
Nesse cenário, alguns ingredientes se destacam por sua versatilidade e eficácia, não apenas em termos de substituição, mas por agregarem valor nutricional e ampliarem a experiência sensorial.
Com a popularização das dietas sem glúten e plant-based, as farinhas alternativas ganharam destaque no portfólio de ingredientes clean label. Farinha de aveia, arroz, quinoa e amêndoas são fontes ricas de fibras, proteínas e micronutrientes. O seu uso contribui para a diferenciação do produto em termos de funcionalidade e perfil nutricional, bem como responde a uma crescente demanda por alternativas sustentáveis e que atendem a diferentes preferências alimentares.
A farinha de aveia, por exemplo, além de ser livre de glúten, é conhecida por seu conteúdo de beta-glucanas, uma fibra solúvel que contribui para a saúde cardiovascular, enquanto a farinha de amêndoa é valorizada por seu alto teor de proteína e gorduras saudáveis. Esses ingredientes podem ser aplicados em uma vasta gama de produtos, como pães, bolos, cookies, biscoitos e barras de cereais, além de bebidas, como smoothies e shakes proteicos.
As pectinas se consolidaram como um ingrediente fundamental nas formulações clean label, especialmente em produtos como geleias, compotas e bebidas. Extraídas principalmente de frutas, como maçã e citrus, são valorizadas por sua capacidade de formar géis naturais e melhorar a textura dos alimentos. Sua utilização em substituição a outros gelificantes artificiais tem se expandido para diversas categorias, atendendo a demanda por opções vegetarianas e veganas.
Amplamente utilizadas em produtos como geleias, doces, iogurtes, molhos, bebidas e até suplementos alimentares, as pectinas são ricas em fibras solúveis, contribuindo não apenas para a textura do produto, mas também para os benefícios de saúde digestiva, como a regulação do trânsito intestinal.
As proteínas vegetais continuam a ser um dos pilares das formulações clean label, especialmente em categorias plant-based. Ingredientes como proteínas de ervilha, arroz, cânhamo e soja se destacam por sua versatilidade e capacidade de oferecer uma boa combinação de aminoácidos essenciais. Além de atenderem a consumidores vegetarianos, veganos e com intolerância ao leite, essas proteínas também são alinhadas com a tendência de sustentabilidade, uma vez que a sua produção tem impacto ambiental inferior ao das proteínas animais.
A proteína de ervilha, por exemplo, ganhou destaque devido a sua alta digestibilidade e seu perfil proteico bem equilibrado, sendo uma excelente opção para aumentar o teor proteico de alimentos e bebidas sem comprometer a simplicidade da lista de ingredientes. É comumente utilizada em alternativas vegetais a laticínios, como leites vegetais, iogurtes e queijos veganos, além de barras de proteínas, bebidas energéticas e shakes nutricionais.
Os extratos de levedura são, sem dúvida, um dos ingredientes mais inovadores no universo clean label. Conhecidos por sua capacidade de conferir sabor umami natural, têm sido utilizados para realçar o sabor de produtos como sopas, molhos e snacks. A vantagem desse ingrediente reside não apenas no seu perfil de sabor, mas também na sua composição rica em minerais e aminoácidos essenciais, o que o torna uma opção nutricionalmente vantajosa. Também são uma excelente alternativa aos realçadores de sabor artificiais, proporcionando uma experiência gustativa mais autêntica e de alta qualidade, sem recorrer a aditivos ou intensificadores de sabor sintéticos. Podem ser aplicados em sopas, molhos, snacks, alimentos prontos para consumo, produtos de panificação e, inclusive, produtos líquidos, como caldos e consommés.
Os prebióticos e probióticos são protagonistas em formulações clean label, com uma crescente valorização dos benefícios que promovem à saúde intestinal. Ingredientes como inulina, frutooligossacarídeos (FOS) e galactooligossacarídeos (GOS) são precursores ideais para estimular o crescimento das bactérias benéficas no intestino. Já os probióticos, como as cepas de Lactobacillus e Bifidobacterium, são incorporados para promover a saúde digestiva e a imunidade. Esses ingredientes estão presentes não apenas em suplementos alimentares, mas também em uma variedade de produtos alimentícios, como iogurtes, bebidas fermentadas, smoothies, barras de cereais, pães e chocolates. Produtos de cuidados digestivos, como kefir, kombucha e outros lácteos fermentados, também são ricos em probióticos e prebióticos.
Embora a utilização de adoçantes artificiais tenha diminuído nos últimos anos, a busca por alternativas naturais não diminuiu. Ingredientes como stevia, xilitol, eritritol e mel continuam a ser escolhas populares nas formulações clean label, oferecendo uma alternativa para adoçar bebidas (como refrigerantes e sucos), produtos de confeitaria, produtos lácteos e até molhos e condimentos, sem recorrer ao uso de açúcar refinado ou adoçantes artificiais.
A stevia é uma das alternativas mais populares, devido ao seu poder adoçante de até 200 vezes superior ao açúcar, sem adicionar calorias ao produto final. Sua versatilidade e o fato de ser uma planta natural, a torna um ingrediente perfeito para consumidores conscientes e que buscam opções mais saudáveis e transparentes.
A segurança alimentar é uma preocupação constante na indústria, mas, em uma formulação clean label, o desafio é garantir a durabilidade do produto sem recorrer a conservantes artificiais. Ingredientes como extratos de alecrim, ácido ascórbico (vitamina C) e ácido láctico têm se tornado alternativas eficazes aos conservantes sintéticos, ajudando a manter a integridade dos produtos sem comprometer a sua naturalidade.
Esses conservantes naturais, além de preservarem os alimentos, oferecem benefícios adicionais, como propriedades antioxidantes, que oferecem benefícios à saúde geral do consumidor. Podem ser aplicados em produtos como sucos naturais, molhos, conservas, pães e outros alimentos frescos ou minimamente processados.
Os corantes naturais são uma peça-chave na evolução das formulações clean label, substituindo os corantes artificiais que historicamente marcaram a indústria alimentícia. Ingredientes como extrato de beterraba, spirulina, cúrcuma, hibisco e suco concentrado de frutas, são algumas das opções que conferem cores vibrantes e agregam valor nutricional e funcionalidade aos produtos.
A beterraba, por exemplo, é uma fonte rica em antioxidantes e compostos bioativos que contribuem para a saúde cardiovascular, enquanto a spirulina oferece benefícios anti-inflamatórios e é uma excelente fonte de proteínas e micronutrientes.
Amplamente utilizados em bebidas (como sucos e refrigerantes), produtos de confeitaria (como balas e bolos), gelatinas, molhos e produtos lácteos, os corantes naturais não apenas promovem a estética natural do produto, mas também ressoam com os consumidores que priorizam escolhas alimentares mais saudáveis e transparentes.
Das farinhas alternativas aos corantes naturais, cada um desses ingredientes carrega consigo não apenas benefícios nutricionais, mas também uma proposta de valor que vai ao encontro das expectativas de um consumidor cada vez mais informado e exigente.
Os desafios da formulação clean label
A busca por rótulos mais simples e transparentes, que não incluam aditivos artificiais ou sintéticos, tem impulsionado a reformulação de muitos produtos. Contudo, essa demanda por naturalidade traz consigo desafios significativos, especialmente no que se refere às características sensoriais do produto, ou seja, sabor, aroma, textura e aparência.
Na busca por atender a demanda clean label, é preciso revisar as formulações tradicionais, substituindo ingredientes sintéticos por alternativas naturais, e essa transição pode gerar alterações sensoriais inesperadas. Ingredientes como corantes artificiais e conservantes podem ser removidos, mas sua ausência pode afetar a aparência, o frescor e a estabilidade do produto. Os corantes naturais, como extratos de beterraba ou cúrcuma, por exemplo, são mais suscetíveis à variação de cor com o tempo, enquanto conservantes naturais, como extrato de alecrim ou ácido cítrico, podem não ter a mesma eficácia na preservação da textura e do sabor, provocando a perda de frescor e vida útil.
O maior desafio, porém, está no sabor. Muitos ingredientes limpos, como os adoçantes naturais ou os ácidos provenientes de frutas e vegetais, podem alterar o perfil de sabor do produto, levando a um gosto mais acentuado, amargo ou até metálico. Além disso, a ausência de estabilizantes e emulsificantes pode resultar em uma textura inconsistente, afetando o mouthfeel, uma característica sensorial crítica para o consumidor.
Esses aspectos se tornam ainda mais complexos quando se considera que a naturalidade não deve comprometer a experiência sensorial do consumidor, que, em grande parte, é guiada pelo sabor e textura.
Além disso, um dos maiores obstáculos na formulação clean label é a seleção de ingredientes. Produtos clean label precisam ter uma lista de ingredientes reduzida, mas ao mesmo tempo, essa lista não pode comprometer a qualidade, a segurança e, principalmente, a durabilidade do produto.
A substituição de aditivos tradicionais por alternativas naturais, como extratos de plantas e enzimas, pode ser uma solução. No entanto, essas alternativas podem trazer desafios em termos de estabilidade do produto, controle de custos e, muitas vezes, custos de produção mais elevados. Além disso, os ingredientes naturais podem não ter a mesma eficácia em prolongar a vida útil dos produtos, o que exige soluções inovadoras para manter a qualidade do produto ao longo do tempo.
Outro desafio está relacionado à manutenção do sabor e da textura, especialmente em alimentos processados. Os ingredientes tradicionais usados para intensificar sabores ou melhorar a textura precisam ser substituídos por soluções naturais, que, embora tragam vantagens sensoriais, a combinação correta para replicar a experiência sensorial desejada nem sempre é simples.
Além disso, a manipulação dos ingredientes naturais pode afetar a consistência de produtos em que o controle de viscosidade e textura sejam essenciais.
Para enfrentar esses desafios, a indústria tem investido em inovações tecnológicas que permitem a utilização de ingredientes naturais sem comprometer a qualidade do produto.
A inovação como diferencial
Se no início o foco do movimento clean label era apenas remover aditivos artificiais e simplificar a lista de ingredientes, hoje as expectativas do consumidor vão além: transparência, naturalidade e funcionalidade devem caminhar juntas, sem comprometer sabor, textura e prazo de validade. Atender a esse novo padrão exige mais do que substituir ingredientes.
As inovações tecnológicas têm sido determinantes na evolução das formulações clean label, permitindo que a indústria desenvolva produtos mais naturais sem abrir mão da funcionalidade e da experiência sensorial.
Entre os avanços mais disruptivos, a fermentação de precisão se destaca como uma solução sustentável e altamente eficiente. Utilizando microrganismos geneticamente programados, essa tecnologia viabiliza a produção de ingredientes idênticos aos naturais, mas com maior controle de pureza e escalabilidade.
Essa abordagem tem sido aplicada na produção de proteínas alternativas, como caseína e lactoferrina, oferecendo novas possibilidades para formulações plant-based, sem comprometer a textura ou o perfil sensorial. Também permite a criação de moduladores de sabor que equilibram dulçor, mascaram amargor e intensificam notas naturais, reduzindo a necessidade de açúcares e realçadores artificiais. Outro benefício é a obtenção de vitaminas e bioativos com alta biodisponibilidade, eliminando a necessidade de versões sintéticas.
Outra tecnologia que tem sido amplamente explorada é a modificação enzimática. A aplicação de enzimas específicas possibilita modificar a estrutura de proteínas, amidos e gorduras para substituir estabilizantes sintéticos e emulsificantes artificiais. Entre as soluções mais inovadoras, as lipoproteínas e fosfolipídios modificados enzimaticamente se destacam, garantindo estabilidade e emulsificação em produtos como maioneses e molhos, sem a necessidade de lecitinas artificiais; as pectinas modificadas criam géis naturais para sobremesas e geleias, eliminando a necessidade de gomas sintéticas, enquanto amidos estruturados enzimaticamente conferem viscosidade a sopas e molhos sem recorrer a amidos modificados quimicamente. Esse avanço permite que ingredientes naturais desempenhem o mesmo papel dos aditivos artificiais, garantindo formulações mais limpas e alinhadas às expectativas do consumidor moderno.
A inteligência artificial também tem desempenhado papel fundamental na criação de novos ingredientes clean label, acelerando a descoberta de alternativas naturais para estabilizantes, emulsificantes e conservantes artificiais. Algoritmos avançados são capazes de mapear substituições ideais e identificar combinações funcionais que otimizam sabor, textura e estabilidade. Além disso, modelos de machine learning conseguem prever como pequenas alterações na formulação impactam a percepção sensorial e a performance do produto final.
Outra aplicação relevante está na previsão da estabilidade dos produtos, permitindo que a indústria desenvolva sistemas naturais de conservação a partir da análise de fatores ambientais, como temperatura e umidade. Com essas ferramentas, é possível reduzir tempo e custo no desenvolvimento de produtos alinhados às exigências do mercado.
A busca por soluções naturais para preservação e liberação controlada de ingredientes tem levado ao avanço do encapsulamento natural, um método essencial para manter a estabilidade de compostos sensíveis, como antioxidantes naturais, aromas e corantes vegetais.
O encapsulamento por biopolímeros, por exemplo, utiliza proteínas e polissacarídeos de origem vegetal para proteger compostos voláteis, garantindo liberação controlada de sabor e aroma. Já o nanoencapsulamento com lipídios naturais melhora a estabilidade de vitaminas e bioativos em bebidas e suplementos, enquanto a microencapsulação com fibras alimentícias, como inulina e goma acácia, prolonga a vida útil de óleos essenciais e compostos antioxidantes. Essas técnicas substituem conservantes artificiais, garantindo maior estabilidade aos produtos sem comprometer o conceito clean label.
Além das inovações em ingredientes, o próprio processamento dos alimentos tem evoluído para atender às exigências do consumidor que busca produtos minimamente processados. Tecnologias de processamento suave, como o HPP (Processamento por Alta Pressão), aumentam a vida útil de produtos frescos sem a necessidade de conservantes químicos. O uso de campos elétricos pulsados (PEF) tem se mostrado eficiente na extração de compostos bioativos e na preservação do valor nutricional de sucos e bebidas vegetais. Já a secagem por spray drying aprimorado reduz a necessidade de carriers sintéticos na estabilização de pós alimentícios. Essas soluções garantem shelf life competitivo aos produtos, sem comprometer a qualidade sensorial ou a integridade dos ingredientes naturais.
Para superar o desafio da remoção de açúcares adicionados e realçadores artificiais sem comprometer o equilíbrio sensorial, a fermentação tem sido utilizada para gerar notas adocicadas naturais, onde microrganismos específicos transformam açúcares residuais em compostos de sabor suave, reduzindo a necessidade de adoçantes intensos. Proteínas moduladoras de sabor, como taumatina e brazeína, extraídas de fontes naturais, ajudam a equilibrar o perfil de sabor sem deixar residual amargo. Além disso, enzimas especializadas têm sido aplicadas para degradar açúcares fermentáveis sem afetar a percepção de dulçor, permitindo a criação de formulações com baixo índice glicêmico.
A convergência dessas tecnologias tem permitido que a indústria de alimentos e bebidas desenvolva produtos verdadeiramente clean label, unindo transparência, funcionalidade e inovação, sem abrir mão da experiência sensorial e da conveniência.
Uma nova era em ingredientes clean label
No atual cenário da indústria de alimentos e bebidas, a busca por ingredientes clean label nunca foi tão intensa. Com consumidores cada vez mais exigentes em relação a transparência e naturalidade dos produtos que consomem, é preciso inovar não apenas na formulação, mas também em como garantir a segurança e a durabilidade dos alimentos.
A GreenLife Solutions tem investido fortemente em ingredientes naturais que proporcionem não apenas uma formulação limpa, mas também garantam segurança alimentar e preservação dos produtos de maneira eficaz.
“Nossas soluções têm a capacidade de manter as características organolépticas dos alimentos, como sabor, cor e textura, sem comprometer a sua qualidade, além de contribuírem para o aumento do shelf life, uma vantagem significativa para a indústria de alimentos”, destaca Bruno Romano, Diretor Comercial da GreenLife Solutions.

Bruno Romano, Diretor Comercial da GreenLife Solutions
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