Essa startup quer limpar sua casa usando laranja e coco
Com a missão de combater os multiusos feitos de petróleo, a Positiv.a cresce a partir da demanda por produtos que não agridem as crianças ou os pets
As prateleiras dos supermercados estão repletas de limpadores para uma variedade de superfícies. Limpa vidros, limpa móveis, limpa pisos, além dos tradicionais multiusos. É fácil se perder em meio à enorme oferta de produtos. “Eu sempre achei isso uma loucura. Por que não posso limpar minha casa com apenas um ou dois limpadores?”, questiona Marcella Zambardino, fundadora da Positiv.a, startup especializada em produtos de limpeza naturais. “Sem contar as fragrâncias super fortes e pesadas. Me dava dor de cabeça.”
Criada há 4 anos, a startup tem a proposta de rever o principal conceito de uma indústria que fatura cerca de 25 bilhões de reais no Brasil. A maioria dos limpadores busca criar a sensação de limpeza instantânea. Com uma passada de pano, o consumidor consegue remover aquela crosta de gordura do fogão, por exemplo. Para isso, esses produtos abusam de substâncias desengordurantes, produzidas a partir do petróleo. Os limpadores da Positiv.a são feitos de, basicamente, duas matérias-primas: extratos de laranja e de coco.
Os negócios estão indo bem. No ano retrasado, o faturamento ficou na casa dos 2 milhões de reais. Ano passado, cresceu para 5 milhões e, este ano, deve dobrar, alcançando 10 milhões. A pandemia do coronavírus ajudou. Como a maior parte das vendas é feita diretamente ao consumidor, pela internet, a demanda deu um salto de 40% por causa da procura por serviços de supermercado online. Há também a questão do consumo consciente, que se intensificou nesta crise.
“Essa é uma tendência irreversível, afirma Leandro Menezes, investidor de impacto que se tornou sócio e co-CEO da Positiv.a, há dois anos. “O consumidor quer mais transparência e saber o que está comprando.” A startup atinge um público crescente formado por pessoas que querem mudar o mundo através do consumo. Em grande parte, são jovens preocupados com questões ambientais e com a própria saúde. Entre os produtos da empresa, está um sabão em barra vegano, sem substâncias de origem animal como os sabões tradicionais.
Outro nicho importante é o dos alérgicos. Segundo Zambardino, os produtos de limpeza estão associados a uma série de dermatites, especialmente em crianças. A inalação dos gases emitidos pelos limpadores também oferece riscos, diz ela. E não apenas para os humanos. Donos de pets, como cães e gatos, estão entre os principais clientes da Positiv.a. “Os animais ficam muito próximos da superfície e se expõem mais aos produtos de limpeza”, afirma a empreendedora.
Atualmente, a empresa oferece, basicamente, três linhas de produtos: um limpador multiuso concentrado para a casa, sabão em pó e em barra para roupas e acessórios de limpeza, como esfregão e bucha. Também estão disponíveis um detergente para lava louças e um tira manchas. “Desenvolvemos os produtos em parceria com os clientes. O tira manchas, por exemplo, surgiu a partir de conversas com os consumidores”, diz Menezes. “Essa é a vantagem de estar na internet. Como não há um intermediário, podemos criar uma inteligência a partir de interações diretas.”
Essa proximidade se estende aos fornecedores. O modelo da Positiv.a é o de transparência total. A startup divulga quem são os fornecedores a quem se interessar e busca co-criar produtos, inclusive com artesãos. O esfregão da empresa, por exemplo, foi desenvolvido em conjunto com uma produtora artesanal de redes de pesca. “Nossa proposta não é só a de mudar a forma como os produtos são produzidos. Queremos transformar todos os processos, do desenvolvimento ao relacionamento com fornecedores e clientes”, explica Menezes.
Mas, e se vier uma proposta de aquisição por parte de uma grande multinacional do setor, como Unilever e Johnson & Johnson? “Eu não enxergo nosso modelo se encaixando em uma grande empresa”, afirma o co-CEO. “Quero que a Positiv.a cresça independente. Estamos em um mercado de 25 bilhões de reais. Se conquistarmos 1%, seremos uma empresa de 250 milhões. Para um investimento inicial de 3 milhões de reais, não é nada mal.”
Fonte: Exame 05.08.2020
Comments are closed.