Castelo quer novos usos ao vinagre na limpeza e na saúde
Empresa faturou R$ 302 milhões em 2020 e vem crescendo 12% ao ano nos últimos 12 anos
Além de temperar saladas, o vinagre pode ser usado na limpeza da casa, lavagem de roupas, higienização de animais, como repelente de insetos, para cuidados com os pés, alívio de dores de garganta dentre outros usos divulgados pela Associação Nacional doas Indústrias de Vinagre (Anav).
Com 116 anos no mercado, a meta da Castelo Alimentos, maior empresa do setor no país, é fazer com que mais pessoas conheçam as mil e uma utilidades do vinagre. “Nos propusemos a ser especialistas em vinagre. E nos últimos anos temos trazido para o consumidor todas as tendências envolvendo o produto”, afirma Marcelo Cereser, presidente da Castelo.
Para divulgar essas receitas, a companhia passou a firmar parcerias com influenciadores digitais. Já fez ações com a blogueira Flávia Ferrari, que dá dicas de cuidados com a casa e tem com mais de 900 mil inscritos em seu canal no Youtube, e com a blogueira fitness Carol Borba, cujo canal possui mais de 4 milhões de inscritos. Com a pandemia do novo coronavírus, a marca reforçou ainda mais sua presença online. Renovou seu e-commerce e vai colocar no ar um blog com dicas sobre o vinagre.
A Castelo vem crescendo cerca de 12% ao ano nos últimos cinco anos. Em 2020, faturou 302 milhões de reais, impulsionada pelo maior consumo de alimentos dentro de casa. Para este ano, com as dificuldades do cenário econômico, a meta é manter o mesmo patamar.
Parente da sidra Cereser
Para fazer jus ao título de especialista em vinagre, a Castelo vem expandindo seu portfólio para trazer ao consumidor brasileiro as tendências envolvendo o produto. Hoje a marca tem mais de 120 produtos, dentre eles o vinagre de álcool, de maçã, de vinho, de arroz, o vinagre em pó, o balsâmico, o orgânico e o vinagre concentrado. Atua também com outros temperos e complementos para salada como azeites, conservas vegetais, molhos condimentados e molhos para lanches.
A Castelo é da mesma família dona da CRS Brands, fabricante de bebidas famosa pela sidra Cereser. Produtora de vinhos, a companhia fornecia a bebida para a destilaria Ipiranga que produzia o vinagre Castelo. “Eles pararam de produzir e nós compramos a operação em 1968″, diz o CEO Marcelo Cereser que está à frente do negócio há 22 anos. “Hoje eu cuido do lado azedo da família.” A gestão das duas empresas é separada. Porém, quando há assuntos convergentes e fornecedores em comum, as companhias buscam negociar em conjunto.
Um dos principais desafios do setor hoje é negociar com fornecedores e evitar repassar ao consumidor o aumento nos preços dos insumos. De acordo com a Anav, o preço do álcool, matéria-prima usada na fabricação do vinagre de álcool, subiu 90%. Já a garrafa PET teve aumento de cerca de 50%.
Com uma fábrica em Jundiaí — a maior fábrica de vinagres da América Latina — a Castelo produz 150 milhões de litros de vinagre por ano e possui uma linha de produção capaz de engarrafar 24 mil garrafas por hora. O carro-chefe da companhia é o vinagre de álcool, responsável por 40% das vendas. Além dos produtos ao consumidor final, a companhia vende caminhões-tanque de vinagre para outras indústrias de alimentos, que o usam como matéria-prima na fabricção de maioneses, ketchups dentre outros.
As garrafas do vinagre Castelo são feitas de PET reciclado. “Toda vez que você compra uma garrafa de vinagre Castelo, tira outra garrafa do meio ambiente”, afirma o presidente da companhia. Ele diz que a Castelo tem uma preocupação já antiga com o ESG (sigla em inglês para ambiental, social e governança). “Fazemos uma auditoria externa há mais de 20 anos, temos um conselho, e fazemos a distribuição de resultados com os colaboradores”, diz.
Uma boa oportunidade de ampliar as vendas nesse contexto desafiador está justamente na difusão dos usos do vinagre para além da alimentação. Isso em um período em que a higiene está no centro das discussões sobre como evitar a covid-19. Porém, isso não é tão simples.
É produto de limpeza?
Por se tratar de um produto alimentício, o vinagre não pode ser vendido como produto de limpeza no Brasil. Ou seja: os fabricantes não podem dizer no rótulo que o vinagre possui propriedades limpantes. Isso ocorre porque os produtos alimentícios são registrados no Ministério da Agricultura, enquanto os produtos de limpeza precisam ser liberados pela Anvisa.
“Deixamos de ter um grande desenvolvimento por conta dessa questão burocrática. Estamos trabalhando para destravar isso e poder esclarecer as funcionalidades do produto e colocá-lo na gôndola certa, mas é um processo que leva anos”, afirma Cesar Bonin, presidente da Anav e diretor comercial da marca de vinagres Toscano.
O objetivo do setor é que o mercado brasileiro funcione nos mesmos moldes do mercado nos Estados Unidos. Lá, segundo Bonin, é possível encontrar vinagre para limpeza com facilidade. O resultado é que o consumo mensal de vinagre por lá é de três garrafas por residência, enquanto no Brasil esse consumo é de uma garrafa.
Com a mudança nas regras, a Anav calcula que seria possível dobrar o volume de vinagre vendido no Brasil. No entanto, a mudança enfrenta resistência do setor de produtos de limpeza. “O vinagre não tem poder de limpeza e desinfecção”, afirma Thiago Lopes, consultor técnico da Câmara de Químicos da Abralimp (Associação Brasileira do Mercado de Limpeza Profissional).
Enquanto a mudança não vem, marcas como a Castelo vendem um vinagre mais concentrado, mas que não traz a especificação de produto de limpeza no rótulo. Em 2018, a companhia lançou o vinagre a 6%, embalado em garrafas de 2 e 5 litros, com o nome de “Vinagre para Limpeza” — o vinagre comum tem concentração de 4%. O produto foi um sucesso e o primeiro lote esgotou no mercado.
Mas o item foi embargado pela Anvisa. Hoje a Castelo continua vendendo o produto com o nome de “Vinagre de Álcool Concentrado 6%”, registrado junto ao Ministério da Agricultura. A Castelo afirma que a formulação do produto e suas funcionalidades permanecem as mesmas.
O vinagre é produzido a partir da fermentação de bebidas alcoólicas, como o vinho ou a cachaça. Em contato com o oxigênio ou com uma bactéria, o álcool se transforma no ácido acético. As primeiras referências ao vinagre remontam ao século 5 a.C. E já naquela época as possibilidades de uso do produto iam além da culinária.
“A vantagem do vinagre é que ele não é tóxico, tem baixo custo e tem propriedades limpantes e desinfetantes. É um produto de uso muito antigo”, afirma o biomédico Roberto Martins Figueiredo, conhecido como Dr. Bactéria e autor de livros sobre higiene e saúde.
Fonte: Exame 25.11.2021
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