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Personalização nutricional: otimizando saúde, desempenho e bem-estar

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Caracterizada por uma abordagem que alinha a composição nutricional de um produto às características específicas de um indivíduo ou grupos, a personalização nutricional vem redefinindo o modo como os alimentos e bebidas são formulados, desenvolvidos e consumidos.

Por Márcia Fani

Em um cenário em que saúde, bem-estar e escolhas conscientes orientam o comportamento de consumo, cresce a demanda por alimentos que vão além do funcional para entregarem benefícios sob medida, com foco em objetivos específicos, seja para otimizar a digestão, melhorar o desempenho cognitivo, modular a imunidade ou manter níveis adequados de energia ao longo do dia.

É nesse contexto que a personalização nutricional surge como uma abordagem estratégica para atender às necessidades específicas dos consumidores contemporâneos, ou seja, entregar produtos moldados para indivíduos com necessidades, rotinas e biotipos distintos.

Se antes o desafio era atender grandes massas com formulações padronizadas, hoje a demanda está na capacidade de oferecer produtos ajustados às necessidades individuais, respeitando preferências alimentares, estilo de vida, objetivos metabólicos e, inclusive, perfil genético ou microbioma.

Nesse novo paradigma, a personalização vai além do marketing para se conectar a megatendências globais, como saúde preventiva, bem-estar holístico, longevidade ativa e autocuidado. Dados da FMCG Gurus mostram que mais de 60% dos consumidores globais desejam produtos que respondam aos seus objetivos específicos de saúde, como ganho de energia, melhora da digestão, controle da glicemia ou fortalecimento da imunidade.

Essa movimentação impulsiona a indústria a buscar modelos de formulação mais flexíveis, ingredientes funcionais mais precisos e novas tecnologias, que permitam adaptar a nutrição às demandas individuais ou de grupos com características semelhantes.

Movido por um consumidor cada vez mais consciente, exigente e conectado aos próprios objetivos de saúde, a personalização nutricional se torna uma estratégia relevante no desenvolvimento de produtos alimentícios e bebidas contemporâneas, convidando a indústria a acompanhar essa mudança com inovação e visão estratégica.

Ganhando escala

No cenário global, o mercado de personalização nutricional apresenta crescimento acelerado. Em 2024, movimentou cerca de US$ 14,14 bilhões, com projeções indicando que pode atingir aproximadamente US$ 65,15 bilhões até 2033, o que representa uma taxa composta anual de crescimento (CAGR) de 17,2% entre 2025 e 2033, conforme dados da IMARC Group.

Já de acordo com a Precedence Research, o mercado global deve alcançar US$ 17,9 bilhões em 2025, crescendo a uma CAGR anual de 14,63%, podendo atingir US$ 60,94 bilhões até 2034. Essa convergência de estimativas reforça o vigor do setor, à medida que saúde e bem-estar são incorporadas ao desenvolvimento de produtos personalizados.

No Brasil, embora ainda em estágio inicial comparado a mercados mais maduros, essa abordagem vem ganhando tração. Segundo dados da Grand View Research, o mercado brasileiro de nutrição personalizada e suplementos alimentares foi avaliado em US$ 216,9 milhões em 2024, com projeção para atingir US$ 311,0 milhões até 2030, crescendo a uma CAGR de 6,1% entre 2025 e 2030.

Essa expansão reflete um ambiente favorável, onde os consumidores buscam produtos que atendam às suas necessidades específicas e restrições alimentares, ao mesmo tempo em que esperam conveniência e qualidade.

Estudos da Mintel mostram que 72% dos consumidores globais valorizam produtos que oferecem benefícios específicos para seu estilo de vida e condição de saúde, o que impulsiona esse crescimento e reforça a demanda por inovação em personalização.

Com relação à distribuição das categorias, dados da Innova Market Insights apontam que os suplementos nutricionais lideram o mercado global de personalização, respondendo por aproximadamente 45% a 50% do valor total do mercado, dada a facilidade de formulação e adoção para públicos-alvo específicos, como imunidade, performance esportiva e saúde digestiva.

Os alimentos funcionais personalizados representam cerca de 30% a 35%, com destaque para snacks, barras e misturas em pó, que oferecem benefícios direcionados, segundo a Euromonitor International.

Já as bebidas personalizadas, embora representem uma fatia menor, em torno de 15% a 20%, mostram crescimento acelerado, especialmente nas categorias de bebidas funcionais, shots vitamínicos e formulações adaptogênicas.

Com previsão de crescimento acelerado para a próxima década, tanto a nível global como Brasil, a personalização nutricional evolui cada vez mais na busca por equilíbrio entre escalabilidade, precisão e experiência sensorial para conquistar o consumidor cada vez mais exigente e conectado.

Inovação centrada no consumidor

A personalização nutricional representa um novo mindset, no qual a indústria escuta o consumidor, interpreta dados reais de saúde e entrega valor tangível.

Com o avanço de tecnologias como sequenciamento genético, análise do microbioma e monitoramento digital de saúde, o setor de alimentos e bebidas passa a ter acesso a informações mais granulares e personalizadas, o que abre caminho para o desenvolvimento de produtos nutricionalmente precisos, que entreguem benefícios mensuráveis e perceptíveis.

Nessa nova lógica, a inovação parte da interseção entre ciência de dados, biotecnologia, neurociência sensorial e, sobretudo, escuta ativa do consumidor, refletindo a evolução do próprio comportamento de consumo.

Para a indústria, isso significa migrar de uma lógica de produto para uma lógica de ecossistema, onde alimentos, suplementos, plataformas digitais e experiências sensoriais se conectam para entregar uma nutrição sob medida. Seja no formato de bebidas funcionais que se adaptam ao ritmo do consumidor, snacks que respondem às necessidades do dia ou suplementos que acompanham planos nutricionais individualizados, a personalização está diretamente relacionada ao desejo do consumidor contemporâneo por controle, relevância e inovação.

O desafio está em combinar escala, precisão, saudabilidade e sensorialidade em soluções que sejam eficazes, seguras, acessíveis e, acima de tudo, desejadas. O sabor, a textura, o formato e até o ritual de consumo continuam sendo decisivos para a adesão. Por isso, a personalização também exige criatividade em design sensorial e entrega de conveniência, criando experiências que promovam o cuidado pessoal de forma prazerosa, intuitiva e conectada ao estilo de vida.

Ingredientes sob medida

A personalização nutricional passa, necessariamente, pelo domínio da ciência dos ingredientes e, cada vez mais, a indústria investe na criação de uma nova geração capaz de atender necessidades específicas de diferentes perfis fisiológicos, comportamentais e até genéticos.

O desenvolvimento de proteínas ajustadas ao perfil e às metas do consumidor é um dos pilares da personalização. Para o consumidor que busca saciedade, proteínas com liberação lenta e alto índice de aminoácidos essenciais favorecem o controle do apetite e o gerenciamento do peso. Já atletas e consumidores ativos demandam proteínas otimizadas para síntese muscular, com destaque para frações isoladas de whey, caseína, soja, ervilha e arroz, além de blends que combinam perfis anabólicos e digestivos. Para consumidores com sensibilidade gastrointestinal, surgem versões com digestão leve, hidrolisadas ou associadas a enzimas, que reduzem desconfortos e maximizam a absorção. Esses ingredientes encontram aplicações personalizadas em suplementos proteicos, shakes prontos para beber, fórmulas em pó para nutrição esportiva e bebidas funcionais.

Com a saúde intestinal sendo cada vez mais reconhecida como central para o bem-estar sistêmico, ingredientes como inulina, frutooligossacarídeos (FOS), galactooligossacarídeos (GOS) e polidextrose, funcionam como combustível seletivo para bactérias benéficas, estimulando a diversidade e o equilíbrio do microbioma. Esses ingredientes são especialmente relevantes em produtos como iogurtes, bebidas vegetais fermentadas, suplementos em pó, barras funcionais e sobremesas com apelo digestivo.

A inovação está na personalização desses ativos de acordo com biotipos intestinais específicos, com base em análises de microbioma, o que permite soluções sob medida para condições como disbiose, constipação, metabolismo lento ou imunidade enfraquecida. Além disso, novas fibras estão surgindo com funcionalidades adicionais, como melhora do índice glicêmico ou efeito texturizante em formulações clean label.

Já com foco no bem-estar holístico, ingredientes com atuação no eixo mente-corpo ganham protagonismo. Os peptídeos bioativos, derivados da quebra controlada de proteínas, têm mostrado efeitos em áreas como pressão arterial, saciedade, relaxamento e resposta inflamatória. Já os adaptógenos, como ashwagandha, Rhodiola e ginseng, são reconhecidos por seu potencial de modular o estresse, aumentar a resistência física e mental e restaurar o equilíbrio. Extratos botânicos como camomila, lavanda, cúrcuma, chá-verde, maracujá e bacopa monnieri são cada vez mais usados por suas propriedades relacionadas ao sono, foco, cognição, humor e recuperação. A microencapsulação tem sido decisiva para preservar a estabilidade e mascarar sabores amargos, viabilizando a aplicação desses ingredientes em bebidas, balas funcionais, snacks e cápsulas mastigáveis.

A personalização também avança em micronutrientes, com a oferta de pré-misturas sob medida, que atendem diferentes consumidores, desde gestantes, crianças e idosos até atletas e pessoas com restrições alimentares. A modularidade permite combinar formatos (microencapsulados, quelados, lipossomais) e objetivos (imunidade, energia, beleza, saúde óssea, função cognitiva). Além disso, essas soluções já são pensadas para aplicações técnicas específicas, como estabilidade em bebidas ácidas, resistência ao calor em panificação ou compatibilidade com ingredientes ativos sensíveis. Suplementos nutricionais, bebidas esportivas, alimentos infantis, produtos plant-based e produtos para nutrição sênior são algumas das categorias que mais se beneficiam desse tipo de solução.

Outra inovação são os compostos com ação metabólica personalizada, que atendem ao consumidor moderno na busca por nutrição aliada a performance, impulsionando ingredientes com efeitos diretos na cognição, foco, humor e energia. A L-teanina, presente no chá-verde, por exemplo, promove relaxamento sem causar sonolência e é frequentemente combinada com cafeína natural, criando uma sinergia que aumenta o estado de alerta sem provocar excesso de estimulação. Colina e tirosina são precursores de neurotransmissores ligados à memória e motivação, com aplicações crescentes em fórmulas para produtividade, aprendizado e envelhecimento saudável. Já os nootrópicos naturais, como ginkgo biloba, bacopa e fosfatidilserina, estão ganhando espaço em suplementos, shots e alimentos funcionais com apelo mental clarity. A escolha da forma, dose e combinação depende da meta desejada: energia sustentada, foco agudo, calma ativa ou resiliência mental.

É importante lembrar que nessa nova geração de alimentos e bebidas personalizados, o efeito funcional precisa andar de mãos dadas com a experiência sensorial. Afinal, de nada adianta um produto prometer foco, energia ou saciedade se não entregar prazer ao paladar, textura agradável e um ritual de consumo que se encaixe no estilo de vida do consumidor. Ingredientes sob medida, desenvolvidos para impactar a saúde de forma personalizada, também estão redefinindo o conceito de sensorialidade, trazendo soluções mais inteligentes, sutis e integradas.

Nesse contexto, a própria escolha dos ingredientes influencia diretamente a percepção sensorial. Peptídeos bioativos podem contribuir para notas umami sutis, que aumentam a complexidade do sabor e a sensação de saciedade; fibras solúveis, como inulina e polidextrose, também funcionam como agentes texturizantes, oferecendo cremosidade e corpo a bebidas e sobremesas com baixo teor de gordura ou açúcar; extratos botânicos e nootrópicos naturais, quando bem equilibrados, agregam notas herbais, florais ou cítricas que enriquecem a assinatura sensorial do produto; proteínas vegetais vêm sendo refinadas para reduzir off-flavors e alcançar perfis mais neutros, abrindo espaço para sabores sofisticados ou indulgentes em aplicações doces e salgadas.

Mais do que funcionalidade, o consumidor espera uma experiência completa, em que nutrição, bem-estar e prazer se convergem, o que inclui também aspectos como cor natural, espessura ideal, carbonatação equilibrada, retrogosto limpo e, inclusive, o som de crocância. Sensações táteis, auditivas e olfativas ganham protagonismo ao lado dos benefícios prometidos no rótulo.

A personalização nutricional não se limita a “o que consumir”, mas também a como consumir, tornando o cuidado com a saúde um hábito desejável, acessível e prazeroso.

Nutrição no momento certo e com o ingrediente estratégico

Cada vez mais os consumidores procuram bebidas populares e convenientes que entreguem o impulso nutritivo de que precisam, no momento certo. Nesse contexto, um dos nutrientes mais valorizados é a proteína, especialmente entre aqueles que adotam um estilo de vida ativo e saudável.

Ignacio Estevez, Application Manager, South America, da Arla Foods Ingredients

“No universo das proteínas, as nativas reinam absolutas, pois refletem o desejo do consumidor por alimentos que sejam nutritivos e o mais próximos possível da natureza”, observa Ignacio Estevez, Application Manager, South America, da Arla Foods Ingredients, empresa que vem investindo em ingredientes que aliam alto valor nutricional a apelo natural.

Seguindo esse conceito, o isolado de caseína micelar Lacprodan® MicelPure é desenvolvido a partir de leite dinamarquês 100% orgânico e, com o uso de tecnologia de filtração por membrana, sem adição de ácidos ou químicos, a Arla Foods Ingredients consegue preservar a integridade da proteína, resultando em um ingrediente com pelo menos 86% de proteína nativa. “Com mínima desnaturação, o Lacprodan® MicelPure mantém os benefícios funcionais da caseína em sua forma mais pura, uma característica que dialoga com consumidores atentos à composição e funcionalidade dos produtos”, explica Ignacio.

Com aplicação versátil, Lacprodan® MicelPurepode ser incorporado em sobremesas, shakes proteicos e bebidas prontas para beber, agregando valor nutricional e diferencial de formulação. Um exemplo da sua aplicação está no conceito Café pronto para beber desenvolvido pela empresa. “Conheça o nosso conceito Café pronto para beber: o energizador pré-treino, com Lacprodan MicelPure®, uma bebida que combina alto teor de proteína, cálcio e cafeína, com baixo teor de carboidratos e gorduras, ideal para estilos de vida ativos e para quem busca praticidade com performance”, convida Ignacio.

Personalização guiada por dados

Na nova era da personalização nutricional, a combinação entre tecnologias emergentes, ciência de alimentos e inteligência de mercado está reformulando profundamente a maneira como a indústria formula, entrega e comunica valor nutricional ao consumidor. O processo de inovação passa a ser orientado por dados reais, individualizados e acionáveis, tornando-se mais dinâmico, preciso e centrado no indivíduo.

Tecnologias emergentes como wearables de última geração, aplicativos de saúde com inteligência preditiva, testes genéticos acessíveis e plataformas de inteligência artificial integradas formam um ecossistema robusto de coleta e análise de dados. Esses sistemas não apenas monitoram parâmetros fisiológicos em tempo real, mas também cruzam informações comportamentais, ambientais e metabólicas, alimentando algoritmos avançados capazes de gerar recomendações nutricionais personalizadas e de orientar o desenvolvimento de produtos com precisão quase clínica.

Os wearables de última geração vão além do rastreamento básico de atividade física, capturando dados contínuos sobre variabilidade da frequência cardíaca (HRV), padrões de sono, estresse, oxigenação do sangue, temperatura corporal e até respostas glicêmicas em tempo real. Esses dados ajudam a identificar, por exemplo, horários ideais para ingestão de nutrientes, resposta a diferentes tipos de macronutrientes e impactos do sono na absorção de vitaminas.

Os aplicativos de saúde com inteligência preditiva usam machine learning para interpretar dados gerados por sensores e autorrelatos; antecipam respostas metabólicas individuais com base em padrões históricos e em testes como curvas glicêmicas pós-prandiais, sugerindo ajustes personalizados na alimentação, como por exemplo, como reduzir o consumo de determinado alimento para quem apresenta picos de glicose, ou aumentar fibras solúveis para melhorar a sensibilidade à insulina.

Já os testes genéticos acessíveis analisam variantes relacionadas à metabolização de cafeína, lactose, glúten, predisposição a deficiências de vitaminas (como D ou B12), e tendência a ganhar peso com dietas ricas em gordura ou carboidrato. Essas informações permitem traçar perfis alimentares com base na genética, promovendo escolhas mais assertivas, desde a formulação até o posicionamento de novos produtos no mercado.

As plataformas de inteligência artificial integradas também desempenham o seu papel ao utilizarem grandes volumes de dados para oferecerem insights personalizados com base no microbioma, expressão gênica, metabolômica e outras análises ômicas. Também alimentam processos de P&D, permitindo a criação de produtos sob demanda, como snacks que modulam a microbiota intestinal de forma direcionada, ou suplementos formulados de acordo com o perfil inflamatório de grupos específicos de consumidores.

Complementando essas novas tecnologias, os ingredientes ganham papel ainda mais relevante: deixam de ser apenas funcionais para se tornarem funcionais sob medida. Tecnologias como fermentação de precisão, edição genômica, bioimpressão 3D, inteligência artificial generativa para P&D, microencapsulamento inteligente e sistemas de liberação controlada estão impulsionando a criação de ingredientes desenhados para interagir com perfis metabólicos específicos.

Essa abordagem também exige a transformação das cadeias produtivas e das estratégias de pesquisa e desenvolvimento. A lógica tradicional do “um para muitos” dá lugar à criação de microportfólios adaptáveis, sustentados por ingredientes modulares, fabricação escalável, plataformas digitais de cocriação e manufatura flexível baseada em dados. A rastreabilidade em tempo real, via blockchain, e a interoperabilidade dos dados entre plataformas de saúde e nutrição tornam-se elementos estratégicos, essenciais para garantir não só a inovação contínua, mas também a transparência e a construção de confiança com o consumidor.

Ao integrar dados inteligentes e tecnologias emergentes com ingredientes direcionados, é possível transformar a personalização nutricional em uma experiência escalável, cientificamente fundamentada e comercialmente viável, moldando um futuro onde saúde, tecnologia e nutrição caminham juntas de forma inédita.

Escalando o individual

Embora a personalização pareça um desafio industrial em termos de escala, novas estratégias permitem aplicar esse conceito em linhas de produção amplas. O segredo está em transformar complexidade em modularidade, ou seja, em vez de criar infinitas variações de um mesmo produto, a indústria começa a operar com plataformas flexíveis de formulação, capazes de gerar múltiplas versões a partir de blocos funcionais padronizados. Assim, ingredientes base podem ser combinados, ajustados ou suplementados de acordo com perfis específicos de consumo, sem comprometer a eficiência produtiva.

Entre as estratégias que vêm ganhando tração destacam-se a arquitetura de produtos orientada por benefícios, como “para imunidade”, “para foco” ou “para o intestino”, e o desenvolvimento de linhas com ajustes de formulação, oferecendo versões low carb, high protein, sem glúten ou com adição de fibras, por exemplo. Também crescem as soluções modulares que utilizam ingredientes base combináveis entre si para gerar variações rápidas, além das plataformas industriais de cocriação, que integram dados em tempo real e permitem a adaptação contínua da oferta de produtos.

Esse movimento é especialmente visível em categorias como snacks funcionais, shots e bebidas líquidas, barras nutricionais, misturas em pó e sopas instantâneas, todas com alto potencial de entregar benefícios personalizados de maneira prática, com conveniência e apelo para o consumidor final.

O uso de pré-misturas customizáveis, sistemas inteligentes de dosagem e tecnologias de processamento digitalizadas, tornam possível a produção em massa de itens personalizados. Linhas automatizadas com integração de dados permitem que o produto final seja ajustado on demand, inclusive com intervenções em tempo real baseadas em algoritmos ou dados do próprio consumidor, especialmente em modelos direct-to-consumer ou serviços de assinatura.

Além disso, a personalização em escala passa por um novo modelo de relacionamento com o consumidor, no qual o engajamento começa antes mesmo do desenvolvimento do produto. Plataformas digitais capturam preferências, objetivos de saúde e dados fisiológicos, transformando essa informação em insights para P&D. É a inteligência coletiva retroalimentando a inovação; quanto mais usuários interagem, mais robusto se torna o sistema de personalização.

Do ponto de vista da cadeia de suprimentos, tecnologias como blockchain, rastreamento digital e gêmeos digitais oferecem transparência, previsibilidade e controle, elementos fundamentais para garantir consistência em um sistema que precisa ser, ao mesmo tempo, individualizado e escalável. Ingredientes com atributos modulares, como blends proteicos, fibras adaptáveis e ativos biofuncionais, são desenvolvidos com foco em flexibilidade, permitindo sua inserção em diferentes perfis de formulação, sem comprometer sabor, textura ou estabilidade.

Essa visão exige uma nova mentalidade operacional, na qual a indústria alimentícia se aproxima do mindset da saúde digital, onde a lógica one size fits all dá lugar à inteligência preditiva, à segmentação refinada e à produção adaptativa, transformando dados em produtos, e produtos em experiências significativas para conquistar uma nova geração de consumidores que não busca apenas alimentos, mas soluções personalizadas de bem-estar.

A viabilização da personalização em larga escala não significa abrir mão da eficiência, mas sim redirecioná-la para que cada lote, cada formulação e cada entrega carregue um propósito específico.

Do insight à inovação

A personalização nutricional já deixou o campo das previsões para se materializar em soluções que chegam cada vez mais ao mercado, muitas delas impulsionadas por startups, grandes marcas e plataformas digitais orientadas por dados.

A Nestlé vem se firmando como protagonista global em personalização nutricional ao integrar dados de saúde, ciência de alimentos e inovação digital para atender às demandas contemporâneas de bem-estar. Suas iniciativas mostram que, com o uso inteligente de tecnologias emergentes e plataformas modulares, é possível escalar soluções antes vistas como logisticamente desafiadoras.

Nos Estados Unidos, a empresa lançou, em 2024 a linha Vital Pursuit, com refeições congeladas desenvolvidas para usuários de medicamentos à base de GLP-1. São bowls, pizzas e sanduíches com porções controladas, alto teor de proteínas, fibras e micronutrientes, como cálcio, ferro e potássio, uma proposta voltada a quem apresenta apetite reduzido e risco de perda muscular.

No Brasil, a Nestlé também oferece produtos com foco em nutrição personalizada, embora ainda não no nível de plataformas digitais de recomendação individualizada. A linha Nutren, da Nestlé Health Science, é composta por versões adaptadas a diferentes perfis: Active, Beauty, Senior e Kids, cada uma com composição nutricional alinhada às necessidades específicas de pessoas ativas, idosos, jovens e crianças.

Outra empresa que aposta fortemente na personalização é a Puravida, com suplementos e alimentos funcionais formulados para benefícios específicos, como imunidade, cognição, energia e saúde integrada. Cada produto combina ingredientes premium e estruturas nutricionais pensadas para perfis distintos, tornando a personalização algo prático e acessível.

Um exemplo é o suplemento Brain Focus, que reúne nutrientes como colina, taurina, tirosina, vitaminas B3, B6, E, fosfatidilserina e cafeína, em base de óleo de coco e TCM, voltado à concentração, foco e energia cognitiva. A lógica modular também orienta a linha de vitaminas e minerais, que inclui produtos como Bio Vit B+, C lipossomal, D3 Synergy, além de suplementos quelados, como Bio Zinco e Bio Magnésio, cada um com foco em funções nutricionais específicas e alta absorção.

A Puravida vai além dos micronutrientes, investindo em ativos de performance e longevidade, como o anti-inflamatório Inflaminus, o Ômega 3 com vitamina E antioxidante e o Ômega 3 Pulse com Coenzima Q10, soluções de alta pureza voltadas ao suporte metabólico e à saúde cardiovascular.

Com essa abordagem segmentada, a marca aplica na prática o conceito de personalização por benefício, com formulações baseadas em evidências, ingredientes biodisponíveis e formatos sensoriais atrativos.

A Herbalife, referência global em nutrição, também exemplifica bem como aplicar personalização em escala. Apesar do modelo centrado em consultores independentes, a empresa oferece portfólio direcionado a diferentes objetivos, agrupados em quatro categorias: Peso ideal, Fitness e performance, Nutrição diária e saúde e Cuidados com a pele e o corpo.

A base do portfólio é o Fórmula 1 Shake, substituto de refeição voltado ao controle de peso e nutrição equilibrada. Para suporte esportivo, a linha Herbalife24 Tri-Core Protein Blend combina proteínas de absorção rápida e lenta, visando recuperação muscular e desempenho.

Já entre os chás funcionais, o Herbal Concentrate, com chá verde e preto, e o N R G Tea, com chá preto e guaraná, oferecem energia e foco sem calorias, reforçando o pilar de conveniência saudável.

Seja por plataformas digitais que integram dados de saúde, seja pela segmentação de benefícios nas gôndolas, a indústria tem encontrado caminhos viáveis para entregar soluções alinhadas a perfis individuais, redefinindo a relação entre alimentos, bebidas e bem-estar, e impulsionando uma nutrição mais inteligente, flexível e centrada nas pessoas.

Moldando um futuro personalizado

O mercado de personalização nutricional se encontra em expansão acelerada, impulsionado por tecnologias digitais, novas exigências dos consumidores e o fortalecimento de evidências científicas.

Segundo o relatório Personalisation in Vitamins and Dietary Supplements, da Euromonitor International, suplementos e vitaminas personalizados já despontam como uma categoria em democratização, impulsionada por dados inteligentes que começam a atingir massa crítica, enquanto as versões ultra premium, baseadas em testes genômicos ou mapeamento de microbioma, mantêm-se como nicho de alto valor. O estudo aponta ainda que a personalização é vista como o próximo grande passo na evolução da nutrição funcional, com crescente adoção de tecnologias preditivas e plataformas digitais de recomendação.

Na mesma direção, o estudo Personalized Nutrition Trends – Global Market Overview, da Innova Market Insights, analisa a evolução dos padrões de alimentação personalizada, evidenciando que os consumidores estão cada vez mais interessados em produtos adaptados a metas específicas, como saúde intestinal, foco mental, imunidade ou controle de peso. Essa segmentação funcional, segundo a análise, abre espaço para o desenvolvimento de fórmulas com apelos claros, conveniência no consumo e base científica validada.

Essa sofisticação da demanda também é destacada pela Mintel no seu relatório A Year of Innovation in Specialised Nutrition, que aponta o aumento de lançamentos que equilibram objetivos relacionados à “melhoria de performance” (como energia, foco e sono) e ao “controle de excessos” (peso, açúcar, inflamação). As inovações se concentram especialmente em categorias como bebidas em pó, suplementos líquidos e barras funcionais. O estudo ressalta ainda o protagonismo de ingredientes naturais e botânicos como aliados da personalização.

Esse panorama mostra que a personalização nutricional representa mais do que uma tendência; trata-se de um novo modelo de consumo, no qual tecnologia, ciência e escolhas individuais se conectam para criar soluções mais eficazes, desejáveis e alinhadas aos estilos de vida contemporâneo.

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