Pesquisadores da UFS transformam casca de laranja em alternativa contra o Aedes aegypti
Fruta cítrica é matéria-prima para desenvolvimento de produto nanotecnológico
Após a incidência de dengue, zika e chikungunya registrar queda nos dois primeiros anos da pandemia do novo coronavírus no Brasil, o aumento de casos de doenças causadas pelo mosquito Aedes aegypti em 2022 reacendeu o alerta para a necessidade do combate ao vetor das arboviroses como uma questão prioritária de saúde pública.
Até o último mês de agosto, de acordo com dados do boletim epidemiológico da Secretaria Nacional de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, o país contabilizou mais de 1 milhão de casos de dengue, 166 mil de chikungunya e quase 10 mil de zika.
Uma das principais estratégias no enfrentamento aos arbovírus é o método químico, como o uso de larvicidas e repelentes. No entanto, ainda há preocupação quanto aos riscos da aplicação de produtos químicos no ambiente. Nesse sentido, os produtos naturais têm sido cada vez mais sugeridos como alternativa para o controle vetorial.
No Laboratório de Desenvolvimento Farmacotécnico e Nanotecnologia do Departamento de Farmácia da Universidade Federal de Sergipe (LADEFNT-UFS), pesquisadores estão investigando a atividade larvicida do óleo essencial extraído de uma fruta cítrica para eliminar as larvas do Aedes aegypti: a casca da laranja.
“O grande problema da atualidade com os produtos que são utilizados para o controle larvicida é a ecotoxicidade [estudo dos efeitos de agentes tóxicos sobre organismos vivos]. Então, buscamos desenvolver alternativas viáveis para atingir especificamente o vetor, isentando o meio ambiente de problemas relacionados com toxicidade,” destaca a professora de Farmácia da UFS e coordenadora do LADEFNT, Rogéria Nunes.
O óleo da casca da laranja carrega uma alta concentração de delimoneno. substância comumente utilizada em produtos de limpeza de motores, engrenagens, rolamentos, peças metálicas e na composição de fertilizantes botânicos. Essa característica química, segundo a pesquisadora, assegura a atividade biológica do óleo adicionado a uma nanoformulação para combater as larvas, garantindo a baixa toxicidade ao ambiente.
Embora a atividade larvicida do resíduo da fruta seja conhecida na literatura científica, os pesquisadores ainda buscam respostas sobre o efeito prolongado da nanoformulação, ou seja, quanto tempo o produto biológico mantém o princípio ativo como protetor ou defensivo no ambiente. É justamente isso que a farmacêutica Jene Mileide está investigando na pesquisa de mestrado em Ciências Farmacêuticas da UFS.
“Após limpar e descascar a laranja, fazemos a extração do óleo através de um destilador e o adicionamos à nanoformulação. Além de atestar a atividade biológica para combater as larvas do mosquito, queremos comprovar que o produto nanotecnológico, que contém o óleo essencial da casca da laranja, tem um efeito residual,” detalha Mileide.
Doutorando em Ciências Farmacêuticas da UFS, Jeferson Silva ressalta que os óleos essenciais apresentam limitações, como alta volatilidade, podendo se degradar mais rapidamente no meio ambiente. Por isso, o objetivo também é desenvolver soluções inovadoras que possam favorecer a dispersão do produto biológico no meio aquoso.
“Os resultados obtidos na pesquisa têm mostrado que temos um produto nanotecnológico que possibilita uma redução da toxicidade para os seres humanos e para o ambiente, além de identificarmos a redução da resistência dessas larvas quando comparamos com produtos atualmente disponíveis no mercado”, afirma o doutorando.
Fonte: Universidade Federal de Sergipe 27.09.2022
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