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Especiarias: realçando o sabor de forma saudável

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Do aroma da canela ao toque picante da pimenta-do-reino, as especiarias conquistam cada vez mais protagonismo na alimentação moderna, combinando saúde e experiência sensorial em uma só aplicação.

Por Márcia Fani

A trajetória das especiarias é marcada por transformações que atravessam séculos, mas poucas tão significativas quanto a atual. De antiga moeda de troca às linhas de produção mais avançadas, seguem atravessando fronteiras culturais, sensoriais e tecnológicas, posicionando-se como fontes naturais de compostos bioativos capazes de oferecer benefícios que vão da ação antioxidante ao suporte imunológico, ao mesmo tempo que preservam a sua essência, ou seja, entregam aromas, cores e sabores que despertam sensações únicas.

Essa combinação entre funcionalidade e experiência sensorial, as coloca em sintonia com um consumo cada vez mais atento à naturalidade, transparência e valor nutricional, tornando-as ingredientes estratégicos para formulações que entregam benefícios nutricionais e narrativas de origem, criando conexões mais significativas com o consumidor.

Evidências científicas, avanços em tecnologias de processamento e a crescente sofisticação do portfólio industrial estão impulsionando essa nova fase. Extratos padronizados, oleorresinas concentradas e formas encapsuladas preservam a estabilidade bioativa e facilitam a aplicação em diferentes matrizes, enquanto mantêm a integridade sensorial. O resultado é um campo fértil para inovações que unem performance nutricional e experiência sensorial, um equilíbrio que, mais do que tendência, reflete uma transformação estrutural no uso das especiarias.

A sua multifuncionalidade encontra respaldo nos números de mercado, que revelam crescimento consistente e estruturado. Segundo relatório da Mordor Intelligence, o setor de especiarias movimentou globalmente cerca de US$ 12 bilhões em 2024, com previsão de expansão a uma taxa de crescimento anual composta (CAGR) de 6,5% até 2030, uma trajetória que expressa não apenas a demanda por sabores autênticos, mas também o interesse crescente por ingredientes que agregam valor funcional comprovado.

No contexto brasileiro, os números também reforçam o potencial do segmento. Dados da Euromonitor International indicam um mercado avaliado em R$ 2,3 bilhões em 2024, com crescimento anual estimado em 5% até 2027.

Além de ser um dos principais consumidores, o Brasil figura como player estratégico na produção e exportação de especiarias regionais, especialmente canela, noz-moscada e pimenta-do-reino, sendo que nesta última, o país é o segundo maior produtor mundial, com produção estimada em cerca de 70 mil toneladas por ano.

O crescimento do setor também tem respaldo nas aplicações industriais. Conforme levantamento da Mintel, em 2024, aproximadamente 38% do uso de especiarias esteve concentrado em alimentos processados, 25% em bebidas e 12% em suplementos alimentares. Globalmente, setores como snacks temperados, alimentos plant-based e bebidas funcionais, como chás especiais, energéticos naturais e shots matinais, exemplificam como a demanda por experiências sensoriais autênticas se alia à busca por benefícios funcionais.

No portfólio industrial, a pimenta-do-reino lidera com cerca de 28% do volume, seguida pela canela com 22%, e pela cúrcuma com 18%, cuja popularidade cresce devido às suas propriedades anti-inflamatórias e antioxidantes. O gengibre e o cravo mantêm posição estratégica, especialmente em bebidas e suplementos, alimentando a tendência por blends funcionais que equilibram sabor e performance, segundo dados da Transparency Market Research.

O avanço do movimento clean label e natural também impulsiona as formas tecnológicas dessas especiarias: extratos padronizados, oleorresinas concentradas e sistemas de encapsulamento, vêm facilitando a incorporação industrial, sem comprometer a estabilidade dos compostos bioativos ou a integridade do perfil sensorial final.

Mais do que um nicho, o mercado de especiarias se apresenta hoje como um terreno fértil para inovação, onde saúde e experiência sensorial caminham lado a lado para responder às expectativas do consumidor contemporâneo.

Aplicações funcionais estratégicas

A combinação entre tradição e inovação se traduz diretamente em oportunidades para o desenvolvimento de alimentos e bebidas contemporâneos, oferecendo sabor, cor e funcionalidade em um único ingrediente.

A cúrcuma, por exemplo, é rica em curcuminóides, especialmente a curcumina, que corresponde a aproximadamente 3% a 5% do seu conteúdo seco. Esse polifenol exerce ação anti-inflamatória ao modular vias como NF-kB e COX-2, além de potente atividade antioxidante que ajuda a neutralizar radicais livres e reduzir o estresse oxidativo celular. Por suas propriedades imunomoduladoras e efeitos neuroprotetores, a cúrcuma é cada vez mais incorporada em produtos voltados para suporte imunológico, recuperação muscular e manutenção da função cognitiva. Sensorialmente, seu aroma terroso e ligeiramente amargo é resultado da presença de óleos essenciais, como turmerona e zingibereno, que também contribuem para seus efeitos terapêuticas.

A canela se destaca por seu alto teor de polifenóis, incluindo os aldeídos cinâmicos, que conferem aroma doce característico e atividade antimicrobiana e antioxidante significativa. Seus compostos auxiliam na regulação da glicemia, estimulando a via da insulina e aumentando a captação celular de glicose, justificando sua presença em formulações focadas em metabolismo energético e controle glicêmico. O eugenol, também presente na especiaria, reforça o perfil funcional com propriedades anti-inflamatórias e analgésicas. É amplamente utilizada em snacks, bebidas quentes e frias, e suplementos com foco em bem-estar metabólico.

A pimenta-do-reino é reconhecida pela presença da piperina, alcaloide responsável pelo sabor pungente e que exerce papel fundamental na melhoria da biodisponibilidade de diversos nutrientes e compostos bioativos, como a curcumina, ao inibir enzimas do metabolismo hepático.

Além de antioxidante e anti-inflamatória, estimula a digestão por meio da promoção da secreção de enzimas pancreáticas. É frequentemente utilizada em alimentos processados, bebidas energéticas e suplementos voltados para performance, digestão e absorção eficiente de nutrientes.

O gengibre contém gingeróis e shogaóis, compostos fenólicos com reconhecida ação anti-inflamatória, antioxidante e antimicrobiana. O gingerol, seu principal componente bioativo, confere sabor picante e efeito estimulante, modulando mediadores inflamatórios, como prostaglandinas e citocinas, além de promover efeitos gastroprotetores e antinauseantes. Sua versatilidade o torna comum em chás, bebidas funcionais, snacks e suplementos para suporte imunológico e conforto digestivo.

O cravo-da-índia concentra entre 70% e 90% de eugenol em seus óleos essenciais, conferindo aroma intenso e propriedades antimicrobianas, antioxidantes e analgésicas. Atua na inibição de enzimas pró-inflamatórias e na proteção das células contra danos oxidativos, sendo valioso em formulações para saúde bucal, suplementos anti-inflamatórios e alimentos que priorizam a conservação natural. Também é componente frequente em blends funcionais, agregando tanto sabor quanto funcionalidade.

Outras especiarias têm ganhado espaço por seus perfis sensoriais e compostos bioativos. Uma delas, é a pimenta-caiena, rica em capsaicina, composto responsável pela sensação de ardência. Com atuação na modulação da dor, aceleração do metabolismo e promoção da termogênese, é estratégica em produtos para controle de peso e performance metabólica. Sensorialmente, sua pungência intensa adiciona vivacidade e complexidade, especialmente em bebidas energéticas e suplementos termogênicos.

O açafrão-da-terra, variedade da cúrcuma, é valorizado não só pela curcumina, mas também por seu perfil aromático terroso e levemente amadeirado, com óleos essenciais que amplificam os seus efeitos antioxidantes e anti-inflamatórios. É aplicado em bebidas funcionais e produtos de suporte à saúde articular e imunológica.

O cardamomo, cujo aroma complexo mistura notas florais e picantes, deve sua funcionalidade a compostos como o cineol e alfa-terpineno, que apresentam atividade anti-inflamatória e suporte à saúde respiratória. Seu uso é frequente em chás especiais, bebidas e suplementos para conforto digestivo e imunológico.

O açafrão, uma das especiarias mais caras e valorizadas, contém crocina, picrocrocina e safranal, compostos responsáveis pela coloração intensa, sabor amargo e aroma característico, além de propriedades antioxidantes e antidepressivas comprovadas. É incorporado em suplementos para suporte ao bem-estar mental e energético.

A erva-mate, utilizada tradicionalmente em infusões, se destaca pelo conteúdo de xantinas, polifenóis e saponinas, que conferem propriedades estimulantes, antioxidantes e anti-inflamatórias. É ingrediente comum em bebidas funcionais e suplementos energéticos.

Noz-moscada, coentro, anis-estrelado, funcho e pimenta-da-Jamaica são outros exemplos de especiarias que combinam perfis sensoriais distintos com funcionalidades, como neuroproteção, conforto digestivo, suporte respiratório, efeito antioxidante e anti-inflamatório.

A Pimenta-rosa, com perfil aromático frutado e ação antioxidante, e o zimbro, rico em terpenos e compostos antimicrobianos, ampliam ainda mais as possibilidades para a criação de blends sensoriais e funcionais.

Essas especiarias são estrategicamente selecionadas não apenas pelo sabor e aroma, mas pelo valor funcional agregado. Panificação, snacks e alimentos plant-based aproveitam suas qualidades sensoriais e bioativas para entregarem experiências diferenciadas e benefícios à saúde. Bebidas funcionais, chás especiais e energéticos naturais potencializam efeitos digestivos, antioxidantes e anti-inflamatórios, enquanto suplementos alimentares utilizam extratos padronizados, oleorresinas concentradas e formas encapsuladas para entregar doses eficazes de compostos bioativos, garantindo estabilidade, biodisponibilidade e conforto sensorial.

Formulando com especiarias na era contemporânea

Incorporar especiarias em formulações transcende a simples adição de sabor ou apelo exótico. Esses ingredientes multifuncionais representam um desafio técnico e uma oportunidade estratégica que exigem equilíbrio entre potência sensorial, estabilidade funcional e valor agregado percebido.

A escolha da forma de apresentação do ingrediente é o primeiro passo estratégico. Pó seco, extrato padronizado, oleorresina, óleo essencial ou, ainda, versões hidrossolúveis e lipossolúveis; cada formato define parâmetros específicos de uso, impactando diretamente na concentração dos compostos bioativos, solubilidade, estabilidade térmica e compatibilidade com a matriz da formulação.

Os extratos padronizados, por exemplo, são altamente valorizados em suplementos e bebidas funcionais, devido a precisão na dosagem e a garantia da entrega de ativos, como curcumina, gingerol e eugenol, em volumes reduzidos. Já oleorresinas e óleos essenciais, reconhecidos por seus perfis aromáticos complexos e alta concentração, demandam manejo cuidadoso para evitar volatilização, oxidação e alterações sensoriais, desafios muitas vezes mitigados por tecnologias avançadas como microencapsulação, carriers naturais e encapsulamento lipídico.

A biodisponibilidade dos compostos bioativos das especiarias é outro ponto crucial que complementa os desafios técnicos. A cúrcuma, por exemplo, embora rica em curcuminóides com reconhecidas propriedades anti-inflamatórias e antioxidantes, apresenta absorção limitada quando isolada. sua combinação com piperina, presente na pimenta-do-reino, pode aumentar em até 2.000% a biodisponibilidade da curcumina, conforme demonstrado em estudos clínicos, reforçando a importância da sinergia funcional no desenvolvimento de formulações eficazes. Essa abordagem não apenas otimiza o potencial terapêutico, mas também cria diferenciais valiosos para o produto final.

A dosagem das especiarias deve ser calibrada com precisão para equilibrar técnica e sensorialidade. Perfis intensos, como os da pimenta, gengibre e cravo, podem facilmente sobrepor a formulação se utilizados em excesso, mas, quando subdosados, perdem sua capacidade funcional e sensorial. O desenvolvimento deve se basear em testes sensoriais rigorosos, alinhados com evidências científicas e conformidade regulatória, especialmente em mercados que exigem comprovação para alegações de saúde, garantindo que o produto final atenda simultaneamente às demandas técnicas, sensoriais e legais.

Formular com especiarias é também um exercício de criatividade e inovação aplicada. A indústria tem explorado além das aplicações convencionais, criando blends exclusivos e combinações inspiradas em tradições regionais ou experiências sensoriais inéditas. Exemplos como snacks temperados com za’atar (mistura de especiarias típica do Oriente Médio, valorizado por suas propriedades antioxidantes e antimicrobianas, e potencial sensorial) e pimenta-caiena; shots funcionais que combinam cúrcuma, hibisco e camu-camu; ou gomas que unem gengibre, cardamomo e baunilha, evidenciam como a inovação sensorial anda lado a lado com a funcionalidade, resultando em produtos que entregam identidade única e alto valor agregado.

Transformar esses ativos milenares em soluções contemporâneas, com estabilidade, performance e relevância para o consumidor atual, requer técnica e visão estratégica, abrindo caminho para produtos que se destacam pela diferenciação saudável e conquistam o mercado por meio de sabor, funcionalidade e autenticidade.

Conservantes naturais com apelo clean label

A busca por soluções que promovam a estabilidade dos produtos ao longo do tempo, ao mesmo tempo em que atendem às demandas por ingredientes reconhecidos e clean label, torna a incorporação de especiarias uma alternativa técnica cada vez mais relevante. Entender esse equilíbrio entre potencial antioxidante, ação antimicrobiana e impacto sensorial é fundamental para o desenvolvimento de produtos que sejam inovadores, seguros, com apelo natural e alinhados às tendências globais.

Além de oferecerem uma alternativa multifuncional capaz de substituir conservantes sintéticos tradicionais, sem comprometer a qualidade sensorial dos produtos finais, os compostos bioativos presentes em diversas especiarias, como o eugenol no cravo, o timol e carvacrol no orégano, os fenóis do alecrim e os aldeídos da canela, exibem potente ação antimicrobiana contra uma variedade de microrganismos, além de propriedades antioxidantes que ajudam a preservar as características organolépticas dos alimentos.

Do ponto de vista técnico, essas substâncias atuam interferindo na integridade das membranas celulares de bactérias, fungos e leveduras, inibindo o seu crescimento e proliferação. Ao mesmo tempo, retardam processos de oxidação lipídica, que comprometem textura, aroma e sabor, sendo particularmente relevantes em produtos com alto teor de gordura ou expostos a condições adversas de armazenamento.

No entanto, a aplicação eficaz desses conservantes naturais exige rigoroso controle dos parâmetros de formulação e processamento, dado que sua potência e estabilidade podem ser influenciadas por fatores como pH, temperatura e composição da matriz alimentar. Tecnologias complementares, como microencapsulação e uso de carriers, têm sido empregadas para otimizar a liberação dos compostos bioativos, garantindo proteção durante o processamento e liberação gradual durante o shelf life.

As aplicações específicas dessas especiarias como conservantes naturais abrangem diversos segmentos da indústria. Na categoria de molhos e condimentos, o uso de extratos de cravo e alecrim tem se mostrado eficaz na preservação da qualidade microbiológica, prolongando a vida útil sem alterar o perfil sensorial esperado pelo consumidor.

Em embutidos e carnes processadas, orégano e tomilho são valorizados por sua ação antimicrobiana contra patógenos comuns, como Listeria monocytogenes e Salmonella, contribuindo para produtos mais seguros e alinhados ao conceito clean label.

Os snacks, especialmente os salgado-temperados, também se beneficiam da incorporação de especiarias antioxidantes e antimicrobianas, como pimenta-do-reino e canela, que atuam na conservação e na intensificação do sabor, agregando valor ao produto final.

No setor de bebidas funcionais, gengibre e canela auxiliam na preservação da estabilidade do produto, ao mesmo tempo em que oferecem atributos sensoriais diferenciados que reforçam o apelo natural e saudável.

Segundo o relatório “Global Clean Label Trends 2024”, da Mintel, 58% dos lançamentos globais destacam a presença de ingredientes naturais com função conservante, refletindo um mercado em transformação que prioriza rótulos mais curtos, ingredientes reconhecíveis e benefícios funcionais claros. Nesse contexto, as especiarias trazem uma proposta clean label que alia funcionalidade comprovada a atributos sensoriais valorizados.

Além de sabor e funcionalidade, as especiarias vêm sendo cada vez mais exploradas como aliadas na redução de sódio em alimentos processados. Ingredientes como alecrim, orégano, páprica, cúrcuma e gengibre não apenas realçam o perfil sensorial de snacks, temperos prontos e refeições prontas, como também permitem a diminuição da quantidade de sal sem comprometer a experiência gustativa. Essa estratégia responde a uma demanda crescente por produtos mais saudáveis, alinhados a recomendações nutricionais e ao movimento clean label, ao mesmo tempo em que contribui para a saúde cardiovascular e para a criação de experiências sensoriais diferenciadas.

Do ponto de vista técnico, a atuação dessas especiarias na redução de sódio está relacionada ao reforço das notas aromáticas e picantes, que compensam a menor presença de sal, além da potencial sinergia entre diferentes compostos bioativos, que pode intensificar a percepção de sabor.

Sinergias que se completam

Dando um passo além do valor isolado, as especiarias revelam ainda maior potencial quando exploradas em combinação. No atual cenário de formulações orientadas pela ciência e pela experiência sensorial, essas interações ganham destaque não apenas pela riqueza aromática que proporcionam, mas também pelo reforço funcional que podem entregar.

A combinação entre diferentes especiarias, ancorada tanto em tradições culinárias milenares quanto em evidências científicas contemporâneas, cria espaço para produtos mais completos, que oferecem múltiplos benefícios à saúde e um perfil sensorial diferenciado. Trata-se de uma abordagem integrada, onde sabor e funcionalidade atuam como pilares estratégicos para inovação e diferenciação.

A lógica funcional por trás dessas combinações reside na complementaridade dos compostos bioativos. Cúrcuma e gengibre, por exemplo, são reconhecidos por suas propriedades anti-inflamatórias e antioxidantes. Contudo, quando associados à pimenta-do-reino, rica em piperina, a biodisponibilidade da curcumina pode ser amplificada em múltiplas vezes, potencializando os efeitos fisiológicos da formulação. Esse tipo de sinergia, embasada em evidências científicas sólidas, abre caminho para o desenvolvimento de produtos com alegações de saúde robustas, valorizadas tanto por consumidores quanto por órgãos reguladores.

Sob a perspectiva sensorial, as especiarias oferecem uma paleta extremamente versátil, que vai do quente e picante ao fresco, herbal e floral. Combinações tradicionais, como gengibre com canela, entregam notas acolhedoras e familiares, especialmente adequadas para categorias como chás, snacks e sobremesas com apelo reconfortante. Já blends mais ousados, como za’atar com pimenta síria, ou cardamomo com baunilha e noz-moscada, revelam camadas aromáticas complexas, dialogando com o mercado premium e a crescente busca por experiências gustativas sofisticadas.

Contudo, integrar funcionalidade e sensorialidade exige domínio técnico apurado. O equilíbrio entre ingredientes é fundamental para evitar que compostos pungentes se sobressaiam e prejudiquem o perfil de sabor, ou que concentrações elevadas de bioativos comprometam a estabilidade do produto.

A combinação de cravo-da-índia com canela, por exemplo, apesar de harmoniosa em algumas preparações, pode resultar em um sabor excessivamente adstringente e dominante se não houver controle rigoroso nas proporções. Outro caso é a associação de pimenta-caiena com gengibre em altas concentrações, que pode gerar uma pungência agressiva e desequilibrar a aceitação do produto final. Da mesma forma, a noz-moscada em excesso pode introduzir notas amargas e até tóxicas, demandando cuidado redobrado na dosagem, especialmente em suplementos alimentares. Esses exemplos ilustram como o domínio da dosagem e da interação entre compostos bioativos é fundamental para preservar a integridade sensorial e funcional das formulações.

Outro ponto estratégico é a padronização dos extratos, assegurando que a quantidade de compostos ativos permaneça constante lote a lote, o que não só facilita a comprovação de alegações funcionais, mas também garante uma experiência sensorial consistente ao consumidor. Além disso, considerar a compatibilidade físico-química das especiarias com outros ingredientes da matriz alimentar é essencial para prevenir reações indesejadas, como oxidação ou sedimentação em bebidas.

Ao explorar essas sinergias de forma técnica e criativa, é possível desenvolver produtos que não apenas enriquecem o paladar, mas também respondem às demandas por saúde, bem-estar e experiências sensoriais autênticas.

Aplicações inovadoras

Muito além do sabor, as especiarias se apresentam como ingredientes-chaves em produtos que combinam funcionalidade, apelo clean label e experiências sensoriais marcantes, respondendo às demandas contemporâneas dos consumidores por saúde, naturalidade e autenticidade.

Essa tendência se confirma em produtos como os chás prontos da linha Gengibre & Especiarias (sachê), da Leão, em formulações que aliam sabor reconfortante e benefícios funcionais. Entre os ingredientes, estão: flores de hibisco, rizomas de gengibre, cascas de canela-do-Ceilão, botões florais de cravo-da-índia, frutos de pimenta preta e de anis estrelado, além, raízes de beterraba, frutos e florais de rosa silvestre, raízes de alcaçuz e folhas de estévia, oferecendo por meio da combinação de aromas e sabores, uma experiência diferenciada e saudável.

Já a marca Chelli, da De Nez Alimentos, investe na chamada tecnologia de alimentos, um campo que une ciência, nutrição e engenharia, para oferecer produtos mais saudáveis, funcionais e seguros, por meio de uma gama variada de temperos, especiarias e condimentos, que contribuem, inclusive, para reduzir o consumo de sal no dia a dia.

Para substituir o sal de forma mais inteligente, a fim de não perder o sabor e a qualidade no preparo de alimentos, a engenheira de alimentos Viviane Pescador Maragno, responsável técnica da Chelli, cita o uso de especiarias, como cúrcuma, páprica, cominho, pimenta e noz-moscada, além de ervas frescas e secas, como alecrim, manjericão, salsa, coentro e louro, como substituições inteligentes que contribui para uma alimentação mais equilibrada e saudável, sem perder o sabor.

No segmento de snacks, a BR Spices, marca da Kraft Heinz Brasil especializada em temperos e especiarias premium é uma referência nacional, especialmente com sua linha de temperos para AirFryer, que combina especiarias, como páprica, cúrcuma, pimenta-do-reino e ervas finas, para atender à demanda por produtos práticos, saudáveis e com perfil clean label, agregando sabor diferenciado e funcionalidade aos snacks assados em airfryer.

No setor de panificação, a incorporação de especiarias não só para enriquece o perfil sensorial, mas também oferece diferenciais funcionais. Um exemplo é o biscoito Speculoos, da Bauducco, caramelizado com especiarias, que oferece textura crocante, aroma marcante e uma combinação harmoniosa de sabores que proporcionam uma experiência gastronômica única.

Esses são apenas alguns exemplos que evidenciam a integração das especiarias de forma inteligente e técnica, combinando tradição e ciência para criar produtos que agradam o paladar e entregam benefícios.

Em sintonia com as tendências

As especiarias têm se posicionado como ingredientes estratégicos para a indústria de alimentos e bebidas, acompanhando um movimento global que valoriza produtos capazes de entregar sabor, funcionalidade e benefícios à saúde.

Indo além do realce de sabor, aroma e cor, as especiarias entregam um portfólio de funcionalidades que inclui propriedades antioxidantes, anti-inflamatórias e ação conservante natural, atributos que dialogam diretamente com macrotendências como clean label, saudabilidade e alimentação preventiva.

Essa percepção é reforçada pela pesquisa Global Food and Drink Trends 2024, da Mintel, que aponta que 72% dos consumidores globais priorizam produtos que combinem benefícios à saúde com experiências sensoriais diferenciadas. Nesse contexto, as especiarias desempenham importante papel ao permitirem a criação de perfis aromáticos complexos e blends exclusivos, capazes de atender ao interesse por experiências gastronômicas autênticas e exóticas, um ativo particularmente valioso para posicionamentos premium e conexão emocional com o consumidor.

Ampliando essa perspectiva, o relatório Top Ten Trends 2024, da Innova Market Insights, destaca a relevância de fatores como saúde mental, fortalecimento da imunidade e prevenção de doenças no comportamento de compra. Ingredientes tradicionais como cúrcuma, gengibre e pimenta-do-reino ganham destaque nesse cenário, respaldados por evidências científicas robustas que comprovam os seus benefícios. Além disso, combinações sinérgicas entre esses elementos aumentam a biodisponibilidade e eficácia dos compostos ativos, um diferencial que se reflete no aumento de 15% na demanda por suplementos e alimentos funcionais com especiarias, segundo dados da Euromonitor.

Paralelamente, o movimento clean label se mantém como um dos motores de inovação no setor. De acordo com o estudo Clean Label Food and Beverage Trends 2024, da Mintel, 68% dos consumidores globais preferem produtos com listas de ingredientes curtas, naturais e de fácil reconhecimento, evitando aditivos artificiais e ingredientes sintéticos. Essa preferência abre espaço para que as especiarias atuem como soluções naturais de sabor, cor e conservação, agregando valor sensorial sem comprometer a percepção de saúde e transparência. Dados da Euromonitor reforçam esse impacto: o segmento clean label cresceu 12% em volume no último ano, evidenciando oportunidades para investimento em naturalidade e diferenciação.

A busca por inovação e personalização destaca ainda mais o potencial das especiarias. De acordo com o relatório Innova Taste and Beyond 2024, da Innova Market Insights, em 2023, 48% dos lançamentos globais de alimentos e bebidas com apelo funcional incorporaram especiarias como ingredientes-chave. Essa versatilidade permite atender nichos específicos, de dietas plant-based a formulações funcionais para imunidade e digestão, com combinações que entregam sabor, aroma e benefícios de forma integrada.

Selecionadas e aplicadas de forma estratégica, as especiarias traduzem as tendências globais de nutrição e bem-estar em experiências sensoriais que unem sabor, saúde e autenticidade.

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