Como funciona aceleração e inovação em Hard Science?
Por Adelino Nakano
Sempre que ouvimos ou lemos a palavra “inovação”, qual a primeira coisa que nos vêm em mente? A maioria das pessoas acredita que é algo relacionado a se ter um aplicativo novo no celular ou mesmo ter um aparelho eletrônico (device) que possa fazer algo diferente de como é feito hoje ou mesmo a automação de algum processo que antes era uma tarefa humana. Isso porque essa palavra está na moda e, de certa forma esse modismo tem a ver com o ciclo de inovação de Schumpeter.
Joseph Alois Schumpeter foi um economista e cientista político austríaco que nasceu no final do séc. XIX e viveu até a década de 50. Ele ficou conhecido por inúmeras contribuições como a teoria da inovação no desenvolvimento econômico e a concepção de ciclos de negócio. Ele explica dizendo que com o Tratado do Fluxo Circular (na qual o fluxo econômico é representando por um círculo passando de mão em mão), existe um processo de equilíbrio ou estado estacionário. O empreendedor (ou o inovador) interrompe esse processo trazendo distúrbio ao ciclo e causando desenvolvimento econômico, que associado a ciclos de desenvolvimento e mercado, pode ter a característica de onda.
Com sua análise dos grandes ciclos econômicos podemos dizer que um dos principais fatores que tem impulsionado a mudança no desenvolvimento tecnológico é a fonte de energia. Começamos com a força hidráulica no final do séc. 18, seguido de vapor, eletricidade, petróleo e a era digital que estamos vivendo. A dimensão de tempo de cada um desses ciclos tem diminuído de acordo com a evolução tecnológica. A primeira ‘era’ durou cerca de 50 anos e a era digital hoje deve ter um ciclo de cerca de 20 anos. Outra forma de perceber essa mudança na evolução do tempo basta verificar a lista da Forbes das 500 maiores empresas, na qual o tempo de vida médio na década de 60 era de 33 anos e nessa década está próximo de 14 anos. Além disso, mais da metade das empresas listadas em 2000 foram à falência dando espaço para novas empresas com base tecnológica.
Essas empresas possuem um ciclo de desenvolvimento de novos produtos muito acelerado permitindo o lançamento de novos celulares a cada ano e novas plataformas de veículos a cada 3 a 4 anos. Essas empresas conseguem ter essa velocidade por alguns motivos: possuem bom conhecimento técnico a respeito de seu produto; na sua maioria aplicam tecnologias existentes em seus produtos de forma inovadora; estão voltadas a evoluções de produtos ou serviços incrementais seguindo o desenvolvimento de tecnologias; investem em pesquisas de consumidor para tentar prever suas necessidades em prazos curtos (menos de 3 anos) e trabalham com aplicações que estão próximos de suas visões e previsões mais concretas (cerca de 5 anos).
No entanto, quando falamos de pesquisa de tecnologias envolvendo ciência básica (ou hard science) estamos considerando a investigação de novos materiais, moléculas medicamentosas de ação farmacêutica, ingredientes ativos de fonte biotecnológica para tratamento de pele, novas formas de geração e armazenamento de energia entre outros. Para vocês terem uma ideia, o desenvolvimento de um novo filtro solar (entenda como o ingrediente ativo que irá na fórmula do produto que protegerá sua pele) pode custar mais de 1 milhão de dólares, levar cerca de 10 anos e não ser aprovado nas últimas fases de estudo. O retorno financeiro desse investimento leva vários anos e no final, dependendo da aceitação do mercado pode ainda não ser um sucesso de vendas. Loucura?
O grande desafio das corporações e instituições de pesquisa atualmente é tentar acelerar o processo de desenvolvimento da ciência básica, vide o exemplo recente de doenças que se alastraram como a Chikungunya e Zika e agora o surto de Coronavírus. A ciência precisa acelerar a pesquisa sobre as causas, mecanismos de ação e efeitos e ainda buscar uma solução para diminuir a incidência e impacto dessas enfermidades para evitar uma epidemia de proporções globais.
Algumas ferramentas que podem ser utilizadas para acelerar o desenvolvimento da ciência básica são:
• Banco de dados de moléculas;
• Inteligência Artificial: serve para mapear diferentes informações do que existe mas principalmente do que existe mas ainda não foi investigada a aplicação;
• Tecnologia in silico: trabalha com simulações computacionais de moléculas, reações, interações e processos;
• Intensificação de Processos, nome dado à ciência que estuda como podemos acelerar um processo industrial (geralmente envolvendo transformação química) com maior rendimento e menor impacto ambiental;
• Modelos Preditivos: utilizar modelos matemáticos, físicos ou até biológicos que possam mimetizar processos e reações complexas (como o metabolismo do ser humano) de modo que os estudos de aplicação garantirão segurança e eficácia do produto com maior fidedignidade;
• High Throughput Screening (HTS): sistemas robotizados geralmente utilizados em química e biologia para realizar inúmeros experimentos com alta precisão e velocidade;
• Colaboração: podemos definir isso de modo mais amplo possível, desde um processo de inovação aberta até pequenas colaborações entre diferentes grupos de pesquisas, unidades ou departamentos permitindo maior número de pessoas interagindo com um determinado tema;
• “caixinha”: estou me referindo a mantermos a mente sempre aberta para poder receber novas informações por mais irrelevantes ou desconexas que elas possam parecer. Pensar diferente pode ajudar a ter “insights” e novas ideias que permitirão abordagens que poderão solucionar um problema de forma mais rápida e criativa.
Um último ponto que acredito ser importante também é o processo de inovação. É importante ter ferramentas laboratoriais para se utilizar e desenvolver um experimento ou uma análise, mas também precisamos buscar o “como”. Aplicar técnicas de raciocínio, geração de ideias, realização e acompanhamento de projetos, gerenciamento de projetos e resultados também é imprescindível para um bom andamento de pesquisa científica, mas isso é assunto para uma próxima conversa.
Mais de 20 anos de experiência em comprovação de benefícios (claim support) de produtos cosméticos, pesquisa e desenvolvimento, inovação e liderança de P&D para indústrias química, cosmética e de fragrâncias.
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